Poesia

Prefácio

Junior Mariano, um poeta diferente

Surpreendi-me, dia desses, com um e-mail de Junior Mariano encaminhando-me para o site “poetas do Piauí” onde, naturalmente, se apresentava e apresenta. Mensagens que chegam, mensagens que passam, afazeres que se impõem pelo trabalho e por compromissos literários, mesmo; só depois de conhecê-lo pessoalmente e ouvi-lo declamar seus versos, chego a ele e a eles – marcados os dois –, pela voz sertã e convincente de autor determinado a vencer.
O encontro pessoal que estas linhas de apresentação recomendam, aconteceu – de poeta para poeta – na casa da Rua das Flores, aonde não por coincidência, em um tempo que já vai longe, também exercitei alguma poesia, como a do “Passeio a Oeiras” e, mais recentemente, os versos de um “plenilúnio de abril”. Procurou-me sozinho, anunciado é certo, por telefonema de Cassi Neiva, presidente da Confraria Eça-Dagobertiana (vejam quanto mereci) de Oeiras, apresentadora de meus livros, na velha-cap; e, implicitamente, por dispensável referência de sua irmã e minha confreira, em Eça, Maurenize Nunes. Disse – em versos – quem era e a que vinha. Buscava o espaço editorial que, ainda, não tivera e queria que eu apresentasse o poeta.
Gente de Marrecas, chão de pastoreio das antigas Fazendas Estaduais, que foi município de Oeiras e, hoje, é Colônia, cedo se fez ao mundo, porque – escreve – “Nasci nas entranhas da caatinga / no âmago do sertão... / Como Camões / e Cervantes caminhei / pelos campos de batalha, / fui soldado, sou poeta”. A impressão primeira foi de sincera (e redundante) autenticidade. Confirmam-na versos como “tu és cordão umbilical / que definha, que seca, / que morre” /, de protesto pelo abandono do Riacho Mocha. Ligação onírica que mantém viva como o telurismo estigmatizante do exílio: “Fugi da miséria, / caí na favela. /Deixei o meu chão, / fui ser peão”. Telurismo de sua opção preferencial pelo retorno ao berço de juristas e coronéis. Passado recorrente.
No poema Hadassa, livro que se apresenta, a murta das cercas vivas da infância que o poeta rasga em versos definidores das paixões que intensamente viveu: “Meus olhos te procuraram no terreiro do céu, / vaguearam pelas profundezas do mar”. As cores do amor. A propósito, escreve: “Meu amor é chuva / que cai nos braços do rio. / Meu amor é rio / que adormece no peito do mar. / O meu amor deseja: / o meu olhar, o meu sorrir, o meu amar”. Sua estrela do céu do Equador. Não li, mas ouvi o contraponto do jovem poeta à “Senhora da Bondade”, de Nogueira Tapety, curiosa confidência de admiração pelo sonetista conterrâneo e pela musa de infância do prefaciado. Familiar – a moça – do outro vate, o da Fazenda Canela. Vale a admiração.
Junior Mariano trabalha bem os sentimentos que o inspiram e indisciplinam: desejo, amor, fé, sofrimento. Tem interesse por ecologia e política e – gente humilde – identifica-se com sua gente. Parabéns, poeta da gente!


Dagoberto Carvalho Jr.
da Academia Piauiense de Letras.
27 de abril de 2011

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