Poesia

Oásis Nordestino


Acordo com o sereno matinal,
Ouço mainha a andar no chão de madeira,
O anu canta debaixo da mangueira,
Sob o imponente sol tropical.

Acorde acordeom!
Em seus acordes me desperto,
O abraço e o faço perto,
Meu dia clareia com seu som.

- Mas olhe que esse menino acordou animado!
Dizia a vizinha que passava na janela.
- Deve estar a pensar naquela menina donzela!
Dizia mainha com o cuscuz recém preparado.

A roupa no varal baila com a brisa,
Na varanda, a saia da mulata balança,
- Meu Padre Ciço! Ela anda parece que dança!
O vento se enche de perfume onde ela pisa.

Pela tarde, o silêncio no marasmo nos brinda,
Mas se interrompe por um reboliço na praça.
- Homem, presta atenção, larga essa cachaça!
São repentes da Paraíba ou a folia de Olinda?

Quando o folclore desfila, sequer pisco.
Na igreja se encena um auto de Suassuna,
Alegria que vale mais que fortuna,
A festa se ecoa atéo Rio São Francisco.

A noite cai na terra de mamelucos,
Sob o som dos sapos e a vaia dos grilos,
Nordeste afora, são quantos os estilos...
Quantos Sergipes, quantos Pernambucos!

Debruçada à beira da janela avisto,
A lua prateada tingir a relva no horizonte.
Lá praquelas bandas, depois da ponte,
Onde na quaresma encenavam o Cristo.

A coruja debruçada no galho antigo,
Vê somente o breu tingir a mata,
As aves noturnas fazem a serenata.
À noite quente, que se faz de abrigo.

Já vai alta, noite Severina,
A cera no candelabro se acumula,
Ouço o relinchar de boa noite da mula,
Incomodada com a luz da lamparina...

Valei-me Nossa Senhora!
Só eu que não durmo?
Logo vem o sol, com a lua mudar de turno
Repetir a rotina sertão afora.

Felipe D S Leonardo Felipe D S Leonardo Autor
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