Poesia

Aos somente estranhos

Hoje acordei e olhei para minhas mãos
não meramente como olhei em todos os
outros dias
mas com um olhar diferente que agora
não me lembro bem qual era
vi traços, caminhos verdes, centenas de
cortes
e ao virá-la pude ver onde ela se
dobrava, pelos, a sujeira nas unhas, as
formas desproporcionais
e continue olhando... percorri todo o
antebraço, até que cheguei aos cotovelos
Eu nada sabia sobre meus cotovelos, não
podia virar para olhá-lo bem e também
reparei nada sabia sobre minhas costas, mas já
era hora de ir-me
aprontei-me e parti
no caminho avistei centenas de versões
minhas totalmente diferentes, alguns
com riso mais frouxo outros mais
contidos
aquele olhar que não lembro de ter tido,
talvez tenha tido quando criança quando
observava aquela borboleta

avistei formatos diferentes dos narizes
e das orelhas e nunca reparei em suas
esquisitices… tudo neste mundo era algo
novo para mim novamente
Vi o andar desajeitado de alguns, o corpo
flácido de outros… pessoas que me
prendiam pelas estranhezas e vi que
havia mais estranhos que normais… Não,
minto,
vi que não havia normais

onde foram os normais, afinal? ligava as
televisões e só havia normais, naquele
mesmo dia em frente a uma loja, vi que
na TV havia somente os normais… mudei
de canal e jornais, novelas, filmes,
séries, só havia normais… já
desesperançoso, desliguei a TV…
e sem entender muito bem a vida, vi
aquela ruga que passei minha vida
odiando, vi aquele cansaço, vi minhas
pernas finas, ouvi minha voz gasguita e
estranhamente diante a tanto estranho
sorri
Por que então me odiará tanto a esta
estranheza, se os normais viviam dentro
de caixas e não poderiam sentir o calor
do sol?

Não é o Muka Não é o Muka Autor
Envie por e-mail
Denuncie