Poesia

Passado e Distração

Como descobrir o que me distrai?
Essa sensação de estar ficando pra trás
As casas e as paisagens envelhecem
E de mim se distanciam mais e mais

Talvez nos dias que não vêm na memória
Nas alegrias mais puras que já senti
Estão elas presas em outra existência
Que em uma fração eu esqueci?

As mudanças e o desejo de regressar
Tive preciosidades nas mãos
Mais valiosas que ouro e prata em abundância
E hoje, não tenho nem mesmo um grão

Quando algo é tirado outro é recebido
São outras palavras, outros pensamentos
Nos tornamos melhores quem sabe mais humanos
Diante desse mundo de audácias e lamentos

Os rostos e as amizades que encontro
Se ajudassem a mim a compreender a razão
Dessas nossas vidas corridas
Que parece não se cruzarem em vão

Comuns ou raras ocasiões
É inútil uma chance resgatar
Se é possível que um caminho esteja ali
Em alguém cuja tendência é ignorar

Por vezes somos tão perdidos
Na busca de sermos encontrados
Se não nos encontramos no presente
Então mergulhamos no passado

O que há muito está esquecido
Dificilmente fará alguma diferença
Olhar pra trás pode ser um pecado
Se houver aperto no peito, a saudade imensa

O necessário é nada mais que renovar
"Águas passadas não movem moinhos"
Já diziam aqueles que com vontade
Lutavam contra tudo sozinhos

O passado cerca e seduz
Com doces lembranças e aparente convicção
Mas se ao fim de tudo não houve um sorriso
Tudo se trata de uma injusta e equívoca ilusão

Já sei o que me distrai
Eu sou livre pra ser, viver e fazer
As casas e as paisagens se aproximam
Ora pois, voltei a envelhecer

Agosto/2014

Samuel Garcia Samuel Garcia Autor
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