Poesia

A importante coisa sem importância alguma

Hoje!
Os hipopótamos levantaram primeiro
E lá se foram os meus travesseiros
Direto para a lagoa
Perto da minha cama de feno
Amontoados sobre a grama seca
E todos os hipopótamos
Tinham olhos azuis
Eles submergiam dentre as folhas
Pois o rio seco era banhado
Por uma luz brilhante
De uma lâmpada fria
Que queimava a pele fina e branca
Com listras pretas dos hipopótamos
Tal como as zebras
Mas acabei de me dar conta
Que eram zebras mesmo
E que nunca foram hipopótamos
Na verdade seus olhos
Eram azuis esverdeados
E eu estava apavorado
Como poderia confundir
Durante tantos anos
Zebras com hipopótamos
Resolvi plantar toda minha angústia
Num canteiro sobre a laje
Do edifício ladrilhado
Com pastilhas amarelo ouro
E num piscar de olhos
Um jardim de crisântemos
Floresceram no tapete da sala
Que beirava a cozinha
Onde eu tomava café da manhã
Rodeado de borboletas brancas
E um bode de chifres abobadados
Aguardando para comer as migalhas
Do mingau de aveia que esfriava
Sobre a copa da árvore sem folhas
Pois que era verão
E o frio fazia as araras nadarem
No céu molhado pelo mar
Que jogava para cima
Suas águas transparentes
De vez verde
De vez azul
De vez somente água
Respingando em mim
Enquanto em pensamento
Indagava sobre meu absurdo
De confundir zebras com hipopótamos.

Robson W de Souz Robson W de Souz Autor
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