Hoje acordei e olhei para minhas mãos
não meramente como olhei em todos os
outros dias
mas com um olhar diferente que agora
não me lembro bem qual era
vi traços, caminhos verdes, centenas de 
cortes 
e ao virá-la pude ver onde ela se 
dobrava, pelos, a sujeira nas unhas, as
formas desproporcionais 
e continue olhando... percorri todo o 
antebraço, até que cheguei aos cotovelos
Eu nada sabia sobre meus cotovelos, não 
podia virar para olhá-lo bem e também 
reparei nada sabia sobre minhas costas, mas já 
era hora de ir-me
aprontei-me e parti
no caminho avistei centenas de versões
 minhas totalmente diferentes, alguns 
com riso mais frouxo outros mais 
contidos
aquele olhar que não lembro de ter tido,
 talvez tenha tido quando criança quando 
observava aquela borboleta
avistei formatos diferentes dos narizes
 e das orelhas e nunca reparei em suas 
esquisitices… tudo neste mundo era algo 
novo para mim novamente
Vi o andar desajeitado de alguns, o corpo 
flácido de outros… pessoas que me 
prendiam pelas estranhezas e vi que
 havia mais estranhos que normais… Não, 
minto, 
vi que não havia normais
onde foram os normais, afinal? ligava as
 televisões e só havia normais, naquele 
mesmo dia em frente a uma loja, vi que 
na TV havia somente os normais… mudei 
de canal e jornais, novelas, filmes, 
séries, só havia normais… já 
desesperançoso, desliguei a TV…
e sem entender muito bem a vida, vi 
aquela ruga que passei minha vida 
odiando, vi aquele cansaço, vi minhas 
pernas finas, ouvi minha voz gasguita e 
estranhamente diante a tanto estranho 
sorri 
Por que então me odiará tanto a esta 
estranheza, se os normais viviam dentro 
de caixas e não poderiam sentir o calor 
do sol?