Poesia

Meu inferno

Meu inferno

Era apenas uma criança,
Cheia de sonhos e fantasias.
Vivia com inocência,
Olhos repletos de harmonia.
Corria sorrindo nas ruas,
Escondia-me detrás de árvores,
Brincadeiras que tão singelas
Enchiam-me de felicidade.
Minha mãe,minha heroína,
meu pai o próprio Thor.
Eram como heróis de quadrinhos,
jamais me deixavam só.
Ao meu lado junto comigo
Havia ainda meus dois irmãos.
Queria ser seu super-homem.
Tirava os óculos e entrava em ação.
E assim seguia a vida,
parecia tudo perfeito.
Mas porque era só um menino.
Ingenuidade não vê defeitos.
Houve então um certo dia,
que comecei a perceber algo.
Dedos irados contra seus rostos,
eles brigavam,falavam alto.
Meus heróis já não se entendiam,
queriam uma tal de separação.
Não entendia o que era isso.
TOLA CRIANÇA!Lá vem solidão!
Papai franziu o rosto,
bateu a porta e então foi embora,
mamãe parecia chorar.
Era de tarde, chovia lá fora.
Olhava perdido, de um lado pro outro,
corri pra cozinha e lhe abracei.
Disse que nunca nos abandonaria.
CRIANÇA IDIOTA!Eu acreditei!
Salto alto, maquiagem no rosto.
Ela passava seu batom carmesim.
De repente se entregava às festas.
Daí em diante começava meu fim.
Quando disso só tinha onze anos,
o caçula cinco e a donzela nove.
Sou o mais velho!Tenho de fazer algo!
CRIANÇA IMBECIL!Não vês que não pode?
Nossas sombras à luz de vela,
tentávamos arriscar na cozinha.
Precisava aprender com alguém.
CRIANÇA IMBECIL!Tu estás sozinha!
A noite então só trazia mais medo,
contava histórias para vê-los ninar.
Implorava de joelhos o amparo de Deus.
Extravasava enfim meu infinito chorar.
Olhares estranhos apontavam pra nós,
mas acima de tudo esperava ela voltar.
Por acaso tu estás surda?
CRIANÇA INFELIZ!Só te resta aceitar!
Meu coração não aguentava mais dor,
lágrimas rolavam quase sem cessar.
Mas o que não destrói, te fortalece,
SEGUE,CRIANÇA!Só não queiras sonhar!
Eu ia cresCENDO,
me acostumando,
não tinha mais esperanças,
não havia mais pranto.
Vivíamos amargurados,
nosso alívio estava um no outro.
Só restava aquilo aceitar.
FINALMENTE,CRIANÇA!Te entregastes ao fosso!

Raphael Rodrigues Raphael Rodrigues Autor
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