Poesia

Nhô Augusto entre coxas e silicone

"Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior" (Jim Morrison)

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Não! Não sou ranzinza. Perdoem meu estado sempre crítico de ser; assim me mantenho vivo no meio das inutilidades de muitos conceitos desta vida atual. Conceitos cada vez mais inúteis, barganhados por uma cultura de entretenimento cada vez mais fútil, servindo de combustível aos pregadores dos finais de tempo: espertos vendedores de lotes no céu, criadores de um Deus raivoso – arrebanhando adeptos através de telas de dois gumes: “... agradam a Deus fazendo o que o diabo gosta...”.

Vejo um tempo (entre telas) retroagindo, favorecendo antigos deuses cafajestes. Hoje, mais vivos do que nunca, propagados através de mensagem sublinhar na cabeça dos menos desavisados. É “O riso e o cômico de uma cultura medieval” - quanto fenômeno psicológico coletivo no imaginário social – mais atual do que nunca. Afinal, quando a cabeça de baixo não pensa a de cima padece. E assim - com o “rabo” esquentando sofás - seguimos procissões orgiásticas em frente a um Dioniso eletrônico.

Tenho consciência de que elas (as inutilidades) sempre fizeram e farão parte dos enigmas da vida. E nesses momentos de confrontos existenciais, ante ao nosso medo atávico de morte, pergunto-me: o que tem a ver a frase da Rita Cadillac - “Quero ser enterrada de bruços para que o povo me reconheça” - com a morte de Nhô Augusto, do conto “A hora e a Vez de Augusto Matraga”?

Somente um ponto em comum: os dois querem redenção “pós-mortem”.

Ente coxas, Ílios, sacro e cóccix, Rita Cadillac - com sua inutilidade televisiva necessária - ainda rega ibope em entrevista sobre luxúria. Nhô Augusto só é lembrado em época de vestibular - e haja contragosto de leitores imberbes aborrecidos!

A “Lady do povo”, depois de ganhar fama mais do que o bacalhau do Velho Guerreiro, caiu no ostracismo, mas conseguiu sobreviver; graças à continuidade das inutilidades dos programas de auditório. Hoje, entre inúmeras concorrentes cruciais – e glúteas –, ela ainda respira entre funkeiras sem calcinha.

Em época de inutilidades de consumo, ocupando noventa por cento das telas de TV, Cadillac mostra que tem glúteo de sobra para continuar emplacando no metier do jornalismo de fuxico. Só não sei quem tem menos cérebro: a coadjuvante da noticia inútil ou o jornalista que embarca nesta onda de: quanto mais trash, mais chic... Mais ibope!

Longe de baboseiras televisivas, Augusto Matraga é dado como morto para ressurgir das sombras do esquecimento: uma Fênix nos árduos campos violentos da sobrevivência humana. Mas para conhecê-lo faz-se necessário abrir livros; e este não é caminho que adeptos de “vedetes globais” gostam de peregrinar. A redenção, através da leitura, é caminho árduo, solitário; escadaria de degraus íngremes até o cume da visão racional de um mundo melhorado... Infelizmente, para muitos – cada um na sua época -, é mais fácil apreciar os rebolados da Rita Cadillac...!

Na sua intenção de fugir do anonimato, não sei se ela (A Rita ou a bunda?) ganhará um pedacinho no céu, mas um epitáfio alegre bem poderia fazer parte do seu último show – para apreciação dos seus fãs: “Aqui jaz uma bunda que rebolará no céu, nem que seja a cacete”.

E uma pergunta ficará sempre “bundelando” na minha mente: terra come ou não come silicone?

Kal Angelus Kal Angelus Autor
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