Poesia

DEUS

Quem é Deus?
Todos tentam responder. Vãs respostas.
Deus é amor,
Deus é paz,
Deus é esperança...
Os filósofos também falaram de Deus.
Sócrates disse que era o “bem”, Platão o chamou de demiurgo, Górgias disse que não era nada, Nietzsche que estava morto.
Os teólogos também falaram...
Os cientistas...
Ele parece até Fernado Pessoa e seus vários heterônimos.
Fanáticos matam em seu nome e todo dia ele é causa e efeito de alguma coisa.
Talvez ele seja apenas uma desculpa que o homem inventou.
É o mágico do futuro,
É a ruptura do devir heracliano,
É o adiamento do sofrimento,
É a esperança vendida a prestações – os juros são altíssimos,
É um amanhã que nunca chega,
É a corda da marionete – nossa vida o grande palco.
Uma vez me disseram que ele tudo pode, falaram que ele é o poder. Sei lá!
No speak english!
É complicado falar de Deus,
Quanta ideologia,
Quantos sofismas,
É o transcendente representando a corrupção da autonomia humana,
É a mitologia que esmagou aldeões.
Dizem que em tudo ele está.
Não importa!
Eu só quero ser eu mesmo, quero errar, acertar perder e ganhar...
Quero que toda moral se torne o que não é,
Quero viver todas as possibilidades.
Se quero que meu filho pense assim?
Não sei.
Não sou uma metafísica axiológica que tenta determinar tudo. Ele será o que quiser!
Não sou Deus, nem o demiurgo, nem o oráculo de Delfos, não sou a Virgem Maria e nem o diabo.
Sou apenas alguém que sente amor,
ódio,
alegria,
tristeza...
Sou o que sou.
Sou alguém que está saindo desse jogo besta,
Jogo de promessas e de prestações caras,
Saio para a vida das efêmeras essências, pois o imutável é enfadonho.
Minhas palavras podem soar mal aos ouvidos de muitos.
Os ouvidos são a entrada das ideologias.
Não prego nova doutrina, falo do que vejo.
Não falo do rio heracliano que metafisicamente se renova a si mesmo e ao que nele entra.
O que é, é, já o disse Parmênides!
O que não é pode vir a ser, já o disse Heráclito – o rio de Heráclito, poucos sabem, era de fogo.
O Deus nosso de cada dia nada nos dá hoje a não ser o sol nosso que está no céu.
Como disse Caeiro:
“Pensar é não compreender”
Sendo assim não penso, compreendo apenas o que é.
No eixo das simultaneidades e sucessividades essa é a estética.
Meu filho sabe quando cai, mas não precisa saber o que é a gravidade ou o que é a fórmula de báskara.
Digo além:
“Pensar é não compreender e complicar o que naturalmente pode ser compreendido”
Meu filho tem a visão do todo e o seu todo são as efêmeras essências,
Ele vê as sucessividades e as simultaneidades.
O que ele vê se esgota naquilo que realmente é.
Ele não sabe ainda o que é Deus – talvez eu lhe empreste meu livro do Batista Mondin.
Nem tampouco sabe que as ideologias motoras e os acréscimos artificiais da civilização já os esperam.
Ele será o que quiser!
Que ele possa mergulhar como Saldin e Gibriel na nebulosa cósmica da vida.
Que ele possa sentir todas as coisas fora de qualquer ideologia transcendental.
Talvez eu lhe deixe meu cavalo pégasus e ele experimente o prazer,
O prazer de todos os gozos,
O prazer único,
O prazer que não volve para um único,
O prazer das multiplicidades,
Das multiplicidades que se esgotam em si mesmas.

Gabriel Ferreira Gabriel Ferreira Autor
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