Poesia

A Noite dos Mortos-Vivos

A Noite dos Mortos-Vivos

Era uma quente manhã ensolarada
os pássaros voavam livres
sem gaiolas nem vidas encarceradas
como em um dia de domingo

As rosas exalavam seu perfume
como se quisessem expor sua essência
aos seres que ali passavam de costume
e as observavam encantados

Longe dos céus cinzentos
mais próximo das brisas e ventos
deitei-me em meio as relvas do campo
e ali então adormeci

Quando acordei do sono que me embalava
no relógio as doze badaladas
naquele instante me indicavam
já não era mais dia

Comecei andar meio sem direção
já não tinha mais aquela mesma emoção
de quando pássaros e rosas me acompanhavam
somente meu medo e a escura noite me toldavam

Não entendia o que estava a acontecer
me espantei
e só então eu começava a perceber
que não estava no mesmo lugar de quando me deitei

Por muito andar cheguei a uma praça vazia
tão vazia que lá nada havia
além de mim, uma árvore ao relento
mas não balançava mais com o vento

Diante de inexplicável situação
sentei-me em um banco pra pensar
como havia parado neste lugar
procurei acalmar o coração

Mas não aceitava o meu fardo
e em meio a pensamentos medonhos
imaginei que aquilo poderia
ser um daqueles sonhos
em que você jura estar acordado

Seria apenas uma das possibilidades
e quanto mais eu pensava mais viajava
uma mistura de sensações indesejadas
que me deixava cada vez mais confuso

Nos meus olhos era possível ver o meu pranto
mas não havia ninguém pra ver
e novamente estava eu sem saber o que fazer
por outra vez andei sem direção

Encontrei em minha caminhada um velho homem
a agonia da solidão já aos poucos passava
poderia ter uma chance de saber onde estava
me aproximei e ele começou a rir

Perguntei então do que ele ria
ele olhou pra mim e me falou em retórica
"o que fazer da vida se não rir de sua triste trajetória?"
era um frase bem intrigante pra mim

Estava sem rumo e agora ainda mais confuso
perguntei-lhe "amigo, pode me dizer onde estou?"
e ele disse "nas fronteiras do pensar, foi o que nos restou"
levantou-se e continuou a sorrir

Estava eu em um lugar escuro
desses que parecem cenário de terror
e agora ainda mais assustado
quem imaginaria uma cena dessas? pelo amor!

Me distanciei depressa
continuei a andar
na esperança de outro alguém encontrar
além dos fantasmas de outras épocas

Eles insistem em me acompanhar
como se quisessem me lembrar
avisar que ainda estão lá
talvez me apontando alguma direção

"Era o que nos restava"
foi o que o velho disse
então me encontrava perdido nas minhas mesmices?
naquele instante percebi que teria de mudar

A praça vazia como os corações
as vidas vazias andando sem direção
e aquilo nada mais era que minha salvação
alguém teve piedade de mim

A mediocridade assolava-me, um de meus fantasmas
a vaidade me excitava, por que isso não me assustava?
falsidades, almas pela metade
foi quando eu abri a janela

E a sua luz ofuscava minha visão
não estavam mais ao meu lado
sei que um dia voltarão
teria de estar preparado

A escuridão havia passado
após uma longa noite de vários dia
o meu medo havia me deixado
foi quando eu abri a janela

Os pássaros voltaram a voar
livres com o vento
assim como meus pensamentos
também alcançavam a liberdade

Não era apenas um sonho
daqueles que você jura estar acordado
eu estava morto
mas agora eu vivo para eternidade!

Ícaro De S E S Ícaro De S E S Autor
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