Poesia

Já Não Mais Sede Amor, Amizade

Já mais não quero nada agora
Com as tuas frias carícias,
Que jamais o tudo d’outrora
Ditas quentes delícias,
Pensei sem elas pudesse, viver!

Já, pois sim, podes crer;
Por assim posso lhe dizer:
Paixão, em mim não mais mora!
Escuso pelas sevícias que te aflora
Caso pense que comigo tu namora!

Por enquanto, mais não quero teus beijos
Nem deles portanto, mais já eu careço.
Mas por que me tantos ais há e arquejos
Sem que’les queira, já que os esqueço?

Decerto que te ainda entanto, desejo,
Já que não de todo finda o meu, por ti apreço!
Tão certo que és linda, há em mim tal sobejo
Tanto de tua boca, d’qual ainda a ti, peço!

Demo-nos as mãos como bons amigos,
Ímpio não nos será os certos perigos
Da louca, triste e má Mãe da perdição,
Que nos faze ledos inimigos do Coração!

Sê pouca! me não queiras quanto bem;
Há muito que com minha voz rouca,
Já teu nome não mais me tanto vem,
Nem na boca, nem no canto que apouca...

Mas que me vale mais viver contigo
Numa sólida e distante Amizade,
Do que morrer perto de ti, teu inimigo,
C’ uma lânguida e falsa Identidade!

Por isso hei-o de lhe rápido, falar:
Amo-te! não de isto há nunca, mudar!
O amor que te hei agora sincero, nutrir,
Será eterno, para todo e sempre porvir!

Luca Jordão Luca Jordão Autor
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