Poesia

Como formigas

Para cumprir um ofício noturno, fomos em próprias pernas,
onde o escuro da Lua ausente respondia às lanternas.
Como guardiões do vale, nós defendemos
o abrigo donde da selva de pedras nos escondemos!

Lá, as formigas foram sentenciadas à morte...
pois seu ofício não lhes traz boa sorte.
O Sol se vai. Juntas, todas saem neste momento;
E em caminho certo vão laborar o alimento.

Talvez o trabalho delas seja como aqui em cima.
Em troca de comer, beber e, quiçá na folga, viver em rima!!
Ou talvez ali na fila de folhas saltando,
não há tempo, como aqui, nem pra viver cantarolando.

Talvez laborem a folha do fim do mês.
Ou nem isso, se contentam com aviso do apito. Talvez!
O apito que desperta para ir, marchar e marchar...
Quem sabe, um dia, aprendam a sorrir e trabalhar.

Quem sabe exista também quem crê no amor entre elas.
Talvez insista um inseto que admire a mais bela das belas.
E no amanhecer do dia vá esperar na saída o apito.
E ela, Josefina, Maria ou Clara, queira ele por seu marido!

Então, vi que somos formigas operárias.
Igual no formigueiro, somos distintas e várias...
Só há certeza que um dia isto se encerra.
E elas, mal sabem que se mínguam os dias à terra!

As plantas lacrimejam a dilaceração,
e nem se isentam de ter bela formação.
Seu néctar, que comumente são iscas aos lábios
dos beija-flores; à noite, sucumbem aos operários.

Mas alguém tem que proteger a natureza,
mesmo que a alegria de um seja do outro - a tristeza!!
Há sempre um começo para o bem.
Quem não faz, já pertence ao ninguém.

Também somos plantas bipolares:
- Estáticas, só nos mexemos pelos bons ares.
Às formigas mal intencionadas, somos desguarnecidas!
Nessa hora, só por Deus não somos esquecidas!!!

E assim, seguimos rente como vagalumes.
Devagarmente, com a precisão dos bons costumes
avistamos operárias ávidas, marchando em rumo certo.
Mas longe, longe aos que não estão lá embaixo, lá perto...

Como o tempo sabe periciar o espaço preciso,
plantamos a extradição em nosso abrigo.
Foi só o começo, a luta tem que continuar!
Isca boa é aquela que sabe se insinuar!

Nessa tonalidade, a vida segue sua rotina:
Voltamos pra casa, onde o amor se afina.
Deixamos que o tempo elimine os vestígios.
Assim, as vestes das plantas ganham mais brilhos!!

Divaldo F S Filho Divaldo F S Filho Autor
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